segunda-feira, 12 de abril de 2010
Ela explica que as alunas fazem uma aula de balé clássico, com barra (ferro ou madeira colocada horizontalmente na parede, onde se apóiam) e centro, além do uso das sapatilhas de pontas. Se necessário, fazem uma variação de repertório (pequena coreografia de grandes balés). Há ainda a avaliação física e a entrevista.
| Sabrina Seibel/Divulgação | ||
| Bailarinas participam de audição no Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina |
Na barra observa-se o nível técnico do candidato. Nos primeiros exercícios, eliminam-se aqueles que visualmente já mostram que não estão dentro dos padrões estéticos do balé: entre eles, a magreza e a postura ereta.
"Queremos ver se o movimento executado foi limpo e como se comporta este corpo dentro do movimento", diz Sylvana. Na fase de exercícios no centro, com sapatilha de ponta, avalia-se a formação do arco do pé e a força. Nos giros, observa-se a rotação das pernas.
Na avaliação física há parâmetros específicos para o balé clássico e outros para a técnica da escola russa. Observam-se, entre outras coisas, a musculatura do candidato, as articulações (se há lesões ou desvios posturais), o percentual de gordura e os potenciais (se a abertura do quadril é favorável à dança clássica e se é flexível).
Os coordenadores lembram que dois bailarinos profissionais do Bolshoi no Brasil (João Paulo Frazão e Stephanine Ricciardi) não foram selecionados na primeira vez que tentaram entrar na escola. Ou seja, os candidatos eliminados devem seguir tentando.
Isabela Loepert, de 16 anos, do Recife, fez a seleção e ficou entre os cinco finalistas (o resultado sai dia 28). "Minha mãe sempre quis que eu tentasse. Aproveitei que estava aqui e me inscrevi", disse. Ela disse que, se não for escolhida, tenta de novo na próxima oportunidade. A menina estuda balé há 8 anos,.
Os jurados da audição do Bolshoi, durante o 26º Festival de Dança de Joinville, eram todos russos. Foi a primeira vez que a banca foi inteiramente do país de origem do Bolshoi. Os estudantes foram avaliados por Nina Speranskaya, ensaiadora responsável pela montagem de "Don Quixote" (apresentada dia 20 no festival) e pelos professores Dmitry Afanasiev e Galina Kravchenko.
| Sabrina Seibel/Divulgação | ||
| Jurados da audição do Bolshoi, durante o 26º Festival de Dança de Joinville, eram todos russos |
MENINAS BAILARINAS
Era uma escola antiga. De salas amplas e claras, povoadas de meninos e meninas em tempo de estudos, em tempo de festas... Uma delas, a maior, abrigava imagens das pessoas e o eco das festas sociais, das solenidades, das aulas... Ao fundo, um gracioso palco, um lugar de cultura e encantamento... de sonhos e realidade... Era o lugar para a grandes falas, as danças... o teatro... a poesia... o amor...
De um canto da grande sala, naquela tarde, uma vitrola acionava disco negro de vinil... Voavam sons ao palco, onde a dança acontecia em cenário de jardim... A agulha tocava o disco girando, girando, até as últimas ranhuras... A melodia produzida repetidas vezes nos transportava a ambientes inusitados, antes nunca vistos por nós...
As meninas- bailarinas, na ponta do pé, eram bonecas de louça a espera do gesto, e do som pra dança começar. De início, movimentos eram graciosidade, languidamente: sílfides beijando a flor... abelhas colhendo o mel... borboletas voando à luz do luar... Os braços arqueados subiam e desciam, em graciosos movimentos, tal qual folhas alongadas sacudidas pelo vento em tardes de verão...
Depois, a dança tornava-se rápida, modificava-se: em passos saltitantes, as meninas-bailarinas assemelhavam-se a peões soltos do fio, rodopiando...rodopiando... nas famosas praças da vida... E as meninas-bailarinas iam e vinham em círculos, de mãos dadas, do centro à fímbria, como se estivessem sozinhas no espaço de festas – ora lentas, ora rapidamente, ao compasso da melodia húngara... Então as meninas-bailarinas transfiguravam-se no ambiente de sonhos, como no ballet clássico, no minueto, nos bailes de máscaras, nas valsas e mazurcas dançadas nos castelos medievais...
Ao final, na ponta do pé, em movimentos contrastantes, iam e voltavam do grande círculo ao centro, olhos pro alto, mãos juntas em pétalas: flores coloridas num bouquet... Em seguida, dobravam o corpo em reverência à “grande platéia do teatro”... e, repetiam aquele movimento gracioso e reverente à medida que as palmas multiplicavam-se em ecos no espaço antigo da escola!... Depois, em passos saltitantes e riso nos lábios, sumiam por trás do pano de veludo, linda cortina vermelha tremulante ao vento que soprava da janela ao lado...