MENINAS BAILARINAS
Era uma escola antiga. De salas amplas e claras, povoadas de meninos e meninas em tempo de estudos, em tempo de festas... Uma delas, a maior, abrigava imagens das pessoas e o eco das festas sociais, das solenidades, das aulas... Ao fundo, um gracioso palco, um lugar de cultura e encantamento... de sonhos e realidade... Era o lugar para a grandes falas, as danças... o teatro... a poesia... o amor...
De um canto da grande sala, naquela tarde, uma vitrola acionava disco negro de vinil... Voavam sons ao palco, onde a dança acontecia em cenário de jardim... A agulha tocava o disco girando, girando, até as últimas ranhuras... A melodia produzida repetidas vezes nos transportava a ambientes inusitados, antes nunca vistos por nós...
As meninas- bailarinas, na ponta do pé, eram bonecas de louça a espera do gesto, e do som pra dança começar. De início, movimentos eram graciosidade, languidamente: sílfides beijando a flor... abelhas colhendo o mel... borboletas voando à luz do luar... Os braços arqueados subiam e desciam, em graciosos movimentos, tal qual folhas alongadas sacudidas pelo vento em tardes de verão...
Depois, a dança tornava-se rápida, modificava-se: em passos saltitantes, as meninas-bailarinas assemelhavam-se a peões soltos do fio, rodopiando...rodopiando... nas famosas praças da vida... E as meninas-bailarinas iam e vinham em círculos, de mãos dadas, do centro à fímbria, como se estivessem sozinhas no espaço de festas – ora lentas, ora rapidamente, ao compasso da melodia húngara... Então as meninas-bailarinas transfiguravam-se no ambiente de sonhos, como no ballet clássico, no minueto, nos bailes de máscaras, nas valsas e mazurcas dançadas nos castelos medievais...
Ao final, na ponta do pé, em movimentos contrastantes, iam e voltavam do grande círculo ao centro, olhos pro alto, mãos juntas em pétalas: flores coloridas num bouquet... Em seguida, dobravam o corpo em reverência à “grande platéia do teatro”... e, repetiam aquele movimento gracioso e reverente à medida que as palmas multiplicavam-se em ecos no espaço antigo da escola!... Depois, em passos saltitantes e riso nos lábios, sumiam por trás do pano de veludo, linda cortina vermelha tremulante ao vento que soprava da janela ao lado...
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